terça-feira, 28 de abril de 2009

Resenha da Obra "Linguagem e Escola - uma perspectiva social". Autora: Magda Soares.


SOARES, Magda. Linguagem e escola.Uma perspectiva social.17ed.São Paulo: Ática,2001.

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DANIELI S. DE S. RABELO(1)
EDINETE LUIZ
GEZIELY ALINE


A obra “Linguagem e Escola: uma perspectiva social” foi escrita pela autora Magda Soares, que é professora da UFMG e escritora de livros didáticos para o ensino da língua portuguesa. Tendo como base as teorias apresentadas por Bernstein e Labov, apresenta como foco principal a análise das relações entre linguagem e escola, visando a compreensão dos problemas educacionais e sociais enfrentados pelas camadas populares brasileiras.
Esta obra articula e integra teorias sociolingüísticas para o entendimento da ligação entre linguagem, escola e sociedade para a fundamentação de uma prática de ensino da língua realmente competente e comprometida com a transformação social.
As altas taxas de repetência e evasão escolar mostram que as pessoas entram na escola, mas, não conseguem êxito na aprendizagem e-ou não permanecem na escola, o que consolida a afirmação da autora:”...não há escola para todos, a escola que existe é antes contra o povo que para o povo.”
O fracasso escolar é explicado das seguintes formas: a escola proporciona oportunidades iguais para todos no tocante ao ensino, porém, alguns indivíduos são incapazes de ajustar-se ao que lhe é oferecido (ideologia do dom) e outras pessoas provenientes de classes sociais desfavorecidas apresentam deficiências e carências culturais, principalmente no que diz respeito a linguagem, o que evidencia o fracasso escolar das camadas populares (ideologia da deficiência cultural). A responsabilidade pelo fracasso escolar é da escola que discrimina a diversidade cultural das pessoas, transformando diferença em deficiência (ideologia das diferenças culturais), tudo porque as instituições escolares rejeitam as camadas populares.
Magda Soares afirma que o fracasso escolar não deve ser combatido a partir das “deficiências” das crianças, das suas famílias ou do meio onde elas estão inseridas, como faz
a educação compensatória; o “inimigo” é a escola, que deveria transforma-se, aceitando as
características, diversidades culturais e lingüísticas das camadas populares para leva-las a adquirir valores, comportamento e linguagem eruditos, sem que elas percam sua identidade cultural.
Ao longo da leitura do livro é muito difundida a idéia de que não existe “deficiência lingüística”, esta é uma rotulação preconceituosa da classe dominante com relação às pessoas pertencentes às classes populares. A questão de classificar as formas lingüísticas como “certa ou errada” está totalmente atrelada ao preconceito social. Não existe uma língua superior a outra e nem uma cultura inferior as demais culturas.
A obra aborda o papel da escola como perpetuadora das desigualdades sociais, quando esta seleciona seus objetivos de acordo com os padrões culturais e lingüísticos da elite, conceituando os saberes desta classe como legítimos e únicos.
Na concepção de Soares, o fracasso escolar dos alunos das massas populares, em todos os níveis de ensino, mostra que a comunicação pedagógica não surte efeito em fazê-los internalizar a cultura padrão.
A escola ensina estes alunos a reconhecer a cultura padrão, diferente daquela que eles conhecem, mas não os ensina a apropriar-se dela de forma significativa.
O livro fala que uma escola transformadora é aquela comprometida em lutar contra as desigualdades e usar sua força e influência para garantir às classes populares o direito à aquisição de conhecimentos e habilidades que as instrumentalizem para a participação na transformação social.
A autora o tempo todo é coerente nos argumentos que usa no livro, todos recheados de idéias marxistas e socialistas que explicam de forma clara e objetiva a relação entre as práticas pedagógicas do ensino da língua maternas e as diferenças socioeconômicas. Para ela, o ideal seria uma sociedade livre de preconceitos lingüísticos. E para isso, no ensino, nos livros escolares e na alfabetização deveria constar também o dialeto dos alunos e não só o padrão.
Só a eliminação das discriminações e das desigualdades sociais poderia garantir igualdade de condições de rendimento na escola. A solução estaria na transformação de toda a estrutura social.
O texto em questão apresenta pontos importantes para o estudo e compreensão da relação linguaguem-escola, abordando aspectos sociolingüísticos, econômicos e culturais que influem no ensino da língua dentro da escola, e também contribuem para a propagação de teorias que buscam explicar o fracasso escolar e suas causas. Desse modo, entende-se que, apesar de em alguns momentos a autora apresentar questões sob um ponto de vista mais fechado; por outro lado, explicita conceitos e subsídios teóricos e metodológicos significativos que contribuem para o entendimento do processo ensino-aprendizagem da língua portuguesa na escola.

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